O mui douto professor médico.**
Muitos anos atrás, numa roça em Luminosa, morava um doutor. Muito bom, diziam: estudou na europa, e curava de tudo, de gripe à tuberculose. Mas bebia muito.
Certo dia, uma mãe aflita, com o filho ardendo em febre no leito, mandou chamar o tal doutor. Chegou, solícito como sempre. Examinou a criança dos pés a cabeça, e depois de refletir um pouco tirou um frasco âmbar da mala, deu à mae e disse que desse à criança 5 gotas, 3 vezes ao dia, no café da manha, no almoço e antes de dormir.
Uma semana depois, o pai mandou chamar o médico para o avisar que o garoto estava bem: corado, forte e hiperativo, como toda criança há de ser. Decidiu então levar o médico ao bolicho, espécie de armazém/bar daqueles tempos, para comemorar a cura.
Após três quartos de dúzia de copos da melhor caninha de Luminosa vazios, volta o médico para casa. Entra, tira as botas sujas de barro na cozinha, entra no quarto, acende luz, tira as ceroulas e deita na cama.
Nao sabemos se foi obra da cachaça, da pura preguiça ou uma mistura bem equilibrada entre os dois o que se sucedeu: o médico, deitado em meio a seus devaneios é tomado por um sono irresistível, mas profundamente incomodado pelo filamento da lampada de 40 velas que ardia no teto de seu quarto. Olha para o interruptor, um botão preso a um fio, perto da porta. Olha então para o lado, e vê uma garrucha encostada na cabeceira da cama, ao alcance da mão, cujos dois canos havia carregado com cartuchos novos pela manhã antes de sair de casa. Nao pensa duas vezes: pega a garrucha e atira na lampada. Dorme então o sono dos justos.
** Com esse post procuro expor ao mundo uma série de causos ouvidos pelo autor de nobres anciãos residentes de uma pequena cidade, pouco além dos domínios da serra da mantiqueira na fronteira entre São Paulo e Minas Gerais. Algumas serão engraçadas, outras trágicas, mas todas carregam aquele peso de história verdadeira, aquele ar de boteco, duas doses de cachaça e muita experiência. Para todos os efeitos, imaginem um senhor na casa dos 70, quase 80 anos contando essas histórias, todas presumidamente verídicas. Espero que tenham aproveitado.
Um comentário:
hehehehe
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